De Portugal para a Croácia…e depois para a Alemanha?
André Villas-Boas, presidente do FC Porto, abordou o “caso” de Cardoso Varela, jovem futebolista luso-angolano formado nos dragões e desviado do clube por empresários.
O internacional sub-17 por Portugal, após o último Europeu da mesma categoria, deixou o FC Porto rumo à Croácia, para o NK Dinamo Odranski Obrez. Alegadamente, essa situação serviria como uma ponte para se transferir para um emblema alemão, na próxima abertura do mercado de transferências.
No discurso que decorreu durante a tomada de posse dos órgãos sociais da Casa FC Porto de Luanda, em Angola, o dirigente reafirmou que os azuis e brancos não ficarão “em silêncio” com a perda do jogador. Além disso, destacou ter o apoio da FIFA. Realçou igualmente o papel de dois oficiais do exército angolano (General Alves Simões e General João Capingana) na aproximação à mãe do jovem promessa.
Villas-Boas revela: Pegaram no jovem [Cardoso Varela], obrigando-o a viver escondido”
“Estamos orgulhosos de ter a FIFA ao nosso lado, bem como as instituições portuguesas e angolanas. Também salientar o papel fundamental em todo este processo do General Alves Simões e do General Capingana na aproximação à mãe do jovem atleta em solo angolano. Duas personalidades que, pelo envolvimento altruísta e apoio que disponibilizaram, revelaram serem homens comprometidos com a defesa dos mais altos valores humanos”, começou por referir Villas-Boas, antes de explicar melhor a situação de Cardoso Varela.
“Por um valor abaixo do seu real valor, em que a maioria do recebido nem lhe chegará às mãos, pretenderam, esses ditos empresários, transacioná-lo para um clube amador na Croácia ao abrigo de uma exceção à lei de proteção de menores, apenas existente naquele país. Para o conseguir, pegaram no jovem, obrigando-o a viver escondido e sem nenhum poder de escolha ou tomada de decisão relativamente ao seu futuro”, salientou, então, antes de garantir uma resposta.
“O tráfico humano é um dos reversos dessa medalha”
“Normalmente, os clubes vítimas destes esquemas encaixam a sua perda em silêncio. Nós não o faremos. Iremos fazer todos os esforços para recuperar o jovem jogador. Também queremos expor à lei civil e das instâncias desportivas os responsáveis por este comportamento criminoso“, explicou assim o presidente do Porto.
André Villas-Boas continuou: “Publicamente, devo então realçar a preocupação do senhor Ministro da Juventude e dos Desportos [Rui Falcão de Andrade] com estes temas. Sei que teremos alguém empenhado nesse desígnio. Tudo isto muito aumentou a nossa vontade de cooperação e convosco sermos assim um player reconhecido neste fortalecimento de relações“, destacou.
Por fim, o dirigente ainda tocou num aspeto bastante importante: “O deslumbramento pelo crescimento da indústria do desporto é algo que nos convoca para algumas preocupações. Fala-se muito nos milhões que se ganham, dando a ilusão de que os atletas atingem o estrelato quase que por toque divino. Mas fala-se pouco que, por trás, mais vezes do que aparece nas primeiras páginas, também há milhões que se perdem à custa de sonhos de jovens explorados por pessoas sem valores. O tráfico humano é um dos reversos dessa medalha“, mencionou o ex-treinador português.