Protestos contra a arbitragem
Violentos confrontos entre adeptos e a polícia estão na origem da morte de dezenas de pessoas durante a final de um torneio de futebol. O certame foi organizado em honra de Mamady Doumbouya, presidente interino da Guiné-Conacri desde 2021. Fontes médicas confirmaram pelo menos 56 perdas mortais, com meios internacionais a garantir que grande parte serão crianças.
A tragédia, chocante, impossível de explicar, aconteceu este domingo (1). Nas imagens divulgadas nas redes sociais, mas cuja autenticidade a agência AFPnão conseguiu verificar, podem ver-se dezenas de corpos espalhados pelas ruas de N’zérékoré, cidade onde decorria o encontro entre a equipa local e o Labé.
Tudo terá começado quando o árbitro decidiu expulsar dois jogadores da formação visitante, aos 68 minutos. A decisão do juiz da partida foi polémica, levantou muitos protestos dos adeptos visitantes e levou à intervenção de Félix Lamah, o Ministro da Agricultura e da Pecuária. O político anulou a segunda expulsão, mas o clima de instabilidade e revolta estava instalado.
Debandada e fuga
Estalou de vez perto do final da partida. Aos 83′, o juiz assinalou um penálti a favor do N’zérékoré. Os adeptos visitantes protestaram novamente, desta feita arremessando pedras para o relvado. As forças de segurança terão respondido com gás lacrimogéneo, o que levou a que dezenas de adeptos tentassem escapar, naquilo que foi entretanto descrito como “debandadas mortais“.
Segundo relatos, o portão de entrada e saída do estádio estava bloqueado. Em pânico, as pessoas tentaram escalar os muros para fugir à enorme confusão, com muitos deles a serem atropelados pelos demais adeptos.
O contexto político num jogo amigável
Injustificável em qualquer contexto, impressiona mais ainda que a tragédia aconteça na sequência de uma partida amigável. A imprensa local refere que vários torneios de futebol semelhantes se têm organizado no país, numa espécie de apoio à candidatura de Mamady Doumbouya às eleições presidenciais, ele que há três anos chegou ao poder após um golpe de Estado.
Refira-se que a junta liderada pelo presidente interino comprometeu-se, inicialmente e após a pressão internacional, a ceder o lugar aos civis eleitos antes do final de 2024, mas quebrou a sua promessa. Pondera agora avançar para novas eleições.
Reações oficiais do governo da Guiné-Conacri
Entretanto, o Governo, através de um comunicado de imprensa difundido na televisão nacional, explicou os confrontos. “As manifestações de insatisfação com as decisões de arbitragem levaram ao arremesso de pedras por parte dos adeptos, que provocaram debandadas mortais“, disseram.
O Primeiro-Ministro do Governo militar da Guiné-Conacri também reagiu nas redes sociais e apelou à colaboração da população. “O Governo deplora os incidentes que marcaram o jogo entre Labé e N’Zérékoré. Estamos a acompanhar a situação. Apelamos à calma, para que os serviços hospitalares possam prestar os primeiros socorros aos feridos”, escreveu Amadou Oury Bah.