Shaqiri é uma das histórias da temporada
O regresso a casa é uma das histórias mais belas do futebol. Um jovem jogador, geralmente formado num clube de menor dimensão, brilha com a camisola dessa equipa e voa rumo a uma grande carreira. Quando a idade começa a pesar-lhe nas asas, regressa ao ninho onde tudo começou, para um último voo.
Esse derradeiro capítulo, que provoca emoção nos adeptos e desperta a curiosidade do mundo do futebol, raramente é brilhante. Costuma ser apenas uma paragem triunfal, quase simbólica, em que o jogador vale mais pelo nome do que pelo desempenho em campo. No entanto, esta não foi a história de Xherdan Shaqiri – o avançado que maravilhou a Europa com os seus golaços. Nesta temporada, a águia voou como nunca antes.
A águia de altos voos
Formado no FC Basel, Shaqiri partiu cedo para os grandes palcos europeus, vestindo as camisolas do Bayern e do Liverpool. Ainda assim, foi ao serviço da seleção helvética que conquistou grande reconhecimento internacional, marcando em todos os Europeus e Mundiais desde 2014. Quando regressou ao clube de origem, não veio apenas para receber homenagens. Veio para as devolver: somou 19 golos e 21 assistências, fazendo o clube voar rumo ao topo da Superliga Suíça.
Depois de dominar o futebol suíça com oito campeonatos consecutivos, o Basel perdeu a sua hegemonia em 2017/18. Desde então, viveu uma acentuada queda de rendimento, culminando num 5.º lugar em 2022/23 e numa aflitiva aproximação à zona de descida em 2023/24. Esta trajetória parece impensável para um emblema com uma das maiores massas adeptas do seu país. Assim, era urgente recuperar o rumo.
O regresso que ensinou a voar
O Basel iniciou então uma profunda transformação. Mantendo Fabio Celestini como treinador principal – o terceiro técnico da época anterior – revolucionou por completo o plantel, com 19 saídas, incluindo o português Renato Veiga, e 13 as entradas, incluindo Romário Baró do FC Porto. No entanto, o reforço mais emblemático foi, sem dúvida, Xherdan Shaqiri, vindo da MLS.
A primeira metade da época ainda invocou os fantasmas do passado. No entanto, o Basel manteve-se nos lugares cimeiros da tabela e, em fevereiro,começou a esmagar a concorrência. No início do play-off de campeão, enfrentou o segundo classificado Servette e venceu por 5-1. Logo a seguir, confirmou o título com nova goleada: 5-2 diante do Lugano. A festa rebentou em Basileia – oito anos depois, o campeão estava de volta.
O fim de uma época… e o início de outra
Com três jornadas ainda por disputar no play-off de campeão da Liga, o Basel olha agora para novos desafios. A Taça da Suíça, que o clube não conquista desde 2019, é um deles. Outro, ainda mais ambicioso, será o play-off de acesso à Champions League na próxima temporada. Será assim o regresso tanto de Shaqiri como dos rot-blau às competições europeias.
Com 40 ações para golo nesta época, Shaqiri esmagou o seu melhor registo individual, que era de 20. Nos momentos finais da sua carreira, a águia dos grandes golos – que não faltaram nesta campanha – deixou de ser apenas um símbolo. Tornou-se numa força decisiva, capaz de levantar o clube que o formou. Voltou ao ninho, não para pousar, mas para fazer todos voarem como nunca.