William Troost-Ekong, defesa do PAOK e capitão da seleção da Nigéria, denunciou aquilo que considera ter sido “uma desgraça” orquestrada pelas autoridades da Líbia na antecâmara do jogo que opõe ambas as nações, em partida de apuramento para a Taça das Nações Africanas.
Atualização: O jogo não vai mesmo realizar-se: a Nigéria já abandonou o país. Abaixo, o resumo de toda a situação.
Amor com amor se paga?
Na origem da polémica estará a recepção que, dias antes, a seleção da Líbia teve à chegada à Nigéria, para disputar o primeiro dos jogos desta dupla jornada de qualificação.
O capitão da Líbia, Faisal Al-Badri, afirmou que a equipa foi maltratada antes da derrota sofrida frente às Super Águias por 1-0, e apelou à “vingança”.
“A nossa bagagem foi revistada dentro do avião durante uma hora, e também tivemos atrasos de três horas no transporte de uma cidade para outra, mesmo viajando num avião privado e existindo um aeroporto mais próximo da cidade onde fomos jogar”, disse.
“Só passado muito tempo chegaram três mini-autocarros sem ar condicionado e um carro da polícia, além de dois carros da embaixada da Líbia. Exigimos que as autoridades competentes analisem estas ações. Sentimos que existe a necessidade de ‘pagar na mesma moeda'”, acrescentou.
Deve jogar-se o Líbia x Nigéria desta terça-feira?
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“Não vamos disputar este jogo”
É o que parece ter acontecido. O capitão nigeriano, no entanto, rebate as acusações, diferenciando erros daquilo que considera terem sido “mind games” intencionais.
“Respeitámos os nossos adversários quando foram nossos convidados na Nigéria. Erros acontecem mas estas coisas feitas de propósito não têm lugar no futebol internacional”. O jogador do PAOK afirmou mesmo que a sua equipa não jogará – a partida está agendada para esta terça-feira (15).
“Com este tipo de comportamento, deixem-nos ficar com os pontos. Não aceitamos viajar para lado nenhum de carro, mesmo com segurança não é seguro. Pedimos que o governo da Nigéria intervenha e que nos resgate. Como capitão, juntamente com a equipa, decidimos que não vamos disputar este jogo. A Confederação Africana de Futebol devia ver o que está a acontecer aqui”.
Isto porque o avião charter que transportava a equipa devia ter aterrado em Benghazi, tendo sido desviado já durante a descida para o aeroporto Al-Abraq, por indicação das autoridades líbias e sem justificação, já que as delegações do Gana e do Sudão, que jogam no mesmo dia na mesma cidade, foram autorizadas a aterrar.
William Troost-Ekong explicou a situação pormenorizadamente: “Estamos há mais de 12 horas num aeroporto abandonado, depois de o nosso avião ter sido desviado pelo governo da Líbia, sem motivo. (…) Até o piloto tunisino , que felizmente conseguiu fazer a mudança de última hora para um aeroporto impróprio para o nosso avião aterrar, diz que nunca tinha visto algo assim acontecer antes”.
12+ hours in an abandoned airport in Lybia after our plane was diverted whilst descending. Lybian government rescinded our approved landing in Benghazi with no reason. They’ve locked the airport gates and left us without phone connection, food or drink. All to play mind games.
E afirma que até a tripulação sofreu abusos. “Ao chegar, o piloto tentou encontrar um aeroporto próximo para descansar com a sua tripulação, mas foi rejeitado em todos os hotéis, sob instruções do governo. Ele podia dormir lá, por ser tunisino, mas NENHUM membro da tripulação nigeriana era permitido. Voltaram a dormir agora no avião, que está estacionado”.
Outros jogadores da Nigéria alinharam pelo mesmo discurso, denunciando com palavras e imagens as condições em que foram recebidos na Líbia.
Wilfred Ndidi, que representa o Leicester, diz que a seleção foi feita refém. “Isto não é futebol. É embaraçoso. Fizeram uma seleção nacional refém. Uma tristeza”, escreveu o jogador no Instagram.
Victor Boniface, do Bayer Leverkusen, completou: “Estamos no aeroporto há quase 13 horas, sem comida, sem wi-fi ou sítio para dormir. África, podemos fazer melhor”.
Últimas atualizações
O boicote da Nigéria vai mesmo avançar: depois de 19h retidos em condições inimagináveis, a seleção abandonou a Líbia e não vai disputar o jogo de apuramento para a Taça das Nações Africanas agendado para esta terça-feira (15). Eram cerca das 14h, hora portuguesa, quando os jogadores começaram a embarcar.
O conhecido fotojornalista nigeriano Sulaimon Adebayo , conhecido como Pooja, contou que alguns clubes europeus se preparavam já para enviar jatos privados até ao país, de forma a salvar os seus jogadores. De qualquer das formas, o seu acesso seria também ele limitado, já que estes aviões poderiam aterrar em Tripoli ou Benghazi , mas não em Al-Abraq .
Segundo os relatos internacionais, os líbios recusaram-se a vender combustível para abastecer o avião – fizeram-no por um valor cinco vezes superior ao de tabela -, não concedendo tampouco autorização para a aeronave levantar voo.
Após longas e duras negociações, o “resgate” não precisará acontecer: assustados, sem dormir e sem acesso a comida e bebida há largas horas, os jogadores da Nigéria embarcaram finalmente de regresso a “casa”.
OUR BOYS ARE RETURNING HOME 🇳🇬🇳🇬🇳🇬🇳🇬🇳🇬 📸 @OgaNlaMedia
Pouco antes de o acordo ser alcançado, Victor Boniface tinha feito mais uma publicação preocupante: “Isto agora está a ficar assustador. Podem ficar com os pontos, apenas queremos voltar para casa”.
Assim, o jogo não vai mesmo disputar-se. Na Nigéria, diz-se que o presidente da Confederação Africana de Futebol entrou em contacto com o ministro do desporto do país, tentando mediar a negociação para que a partida tivesse lugar. No entanto, John Owan Enoh mostrou-se irredutível.