Panorama histórico: do Intercontinental ao formato de 32 clubes

Desde a primeira edição da Copa Intercontinental em 1960, apenas 37 equipes levantaram a taça que consagra o campeão mundial de clubes. Contudo, nenhuma delas exibe um currículo tão robusto quanto o Real Madrid: oito títulos oficiais, distribuídos em 1960, 1998, 2002 (Intercontinental) e 2014, 2016, 2017, 2018, 2022 (Mundial de Clubes FIFA).

Com a adoção do modelo quadrienal de 32 participantes – cuja estreia em julho de 2025 terminou com vitória do Chelsea sobre o Flamengo – o Mundial ganhou vitrine global, mas manteve o roteiro europeu: já são 13 taças consecutivas da UEFA e, dentro desse bloco, o domínio espanhol soma 13 conquistas (oito do Real e três do Barcelona), superando Brasil e Itália, empatados com dez cada.


Ranking atualizado de campeões (1960-2025)

PosiçãoClubePaísTítulos*
Real MadridEspanha8
MilanItália4
Bayern de MuniqueAlemanha4
Boca JuniorsArgentina4
BarcelonaEspanha3
Inter de MilãoItália3
São PauloBrasil3
PeñarolUruguai3
CorinthiansBrasil2
LiverpoolInglaterra2
SantosBrasil2
Nacional-URUUruguai2
Outros 31 clubes1

*Soma da Copa Intercontinental (1960-2004) e do Mundial de Clubes FIFA (2000-2025).


O que explica a vantagem merengue?

  1. Gestão financeira e de marca
    Relatórios da Deloitte e da Brand Finance apontam o Real como a marca mais valiosa do futebol (≈ € 1,7 bi). Esse músculo garante elencos competitivos a cada temporada sem comprometer o fluxo de caixa – a folha salarial gira em torno de 55 % da receita operacional.
  2. Consistência continental
    Desde 2014, o clube conquistou seis Champions League e converteu todas em títulos mundiais, mantendo 100 % de aproveitamento em finais contra sul-americanos, asiáticos ou africanos.
  3. Estrutura esportiva estável
    Carlo Ancelotti tornou-se o técnico com mais troféus intercontinentais (5). O departamento de futebol combina jovens (Bellingham, Endrick) com veteranos decisivos (Modrić, Kroos), criando transições suaves de geração.
  4. Base engajada
    Segundo o Finance Football, o Real lidera o ranking mundial de sócios, ultrapassando 150 mil. A comunidade global impulsiona receitas de matchday e merchandising, fundamentais para manter a hegemonia.

Europa x América do Sul: abismo em expansão

A vitória corintiana de 2012 segue como a última de um sul-americano. De lá para cá:

10 finais – todas vencidas por europeus.
Média de posse de bola – 59 % para os campeões da UEFA.
Receita média anual – € 720 mi (europeus) contra € 85 mi (sul-americanos), de acordo com a KPMG Football Benchmark 2025.

Impacto do novo formato de 32 times

Datas – três semanas em junho/julho, aliviando conflito com campeonatos nacionais.
Prêmio – US$ 40 mi ao campeão, o dobro da antiga edição anual.
Audiência – 1,2 bilhão de espectadores cumulativos (Nielsen Sports), recorde para eventos de clubes.
Rotação de sedes – 2029 deve ocorrer nos EUA, em sinergia com a Copa do Mundo 2026.

Apesar do aumento de participantes, 10 dos 12 europeus chegaram às oitavas em 2025, sinal de que a lacuna técnica permanece.

Brasil: tradição resiste, mas competitividade cai

O Brasil ainda é o segundo país com mais títulos (10), porém não sobe ao pódio desde 2012. O São Paulo, melhor colocado no ranking histórico nacional, sustenta três conquistas, enquanto Palmeiras e Flamengo, finalistas recentes, esbarraram no poderio inglês – Chelsea 2025 e Liverpool 2019.

Presidentes de clubes brasileiros apontam três entraves:

  1. Câmbio desfavorável para manter atletas-chave.
  2. Calendário doméstico inchado (70 partidas por temporada).
  3. Distribuição de TV interna que amplia a distância entre poucos gigantes e o restante do mercado.