Quando Ruben Amorim assumiu o Manchester United em 2024, a promessa era clara: implementar um projeto de reconstrução que devolvesse o clube ao topo da Premier League em três ou quatro temporadas. Menos de um ano depois, o treinador português sente na pele o paradoxo de Old Trafford: planejar o futuro num ambiente em que o presente não pode esperar.
Na saída do empate por 1 a 1 com o West Ham, Amorim foi taxativo: “Sabemos que precisamos de tempo, mas não há tempo neste clube”. A frase resume o cenário. Com apenas 13 vitórias em 41 jogos de liga, o United voltou a oscilar, alimentando coro de torcedores que pedem mudanças já — inclusive no comando técnico.
Jogo-chave em Molineux
O próximo teste é segunda-feira, contra o Wolverhampton, lanterna da competição e ainda sem triunfos em 2025/26. A lembrança da derrota por 2 a 0 no mesmo estádio, em dezembro passado, reforça a tensão. Uma nova escorregada pode colocar o nome de Amorim na berlinda de forma definitiva.
Elenco em obra
Boa parte da pressão nasce do perfil do plantel. Na última janela, o United destinou quase £ 200 milhões (R$ 1,4 bilhões) para reforçar o ataque com Matheus Cunha, Bryan Mbeumo e Benjamin Šeško, todos com menos de 25 anos. O restante do grupo, porém, recebeu poucos ajustes: Diogo Dalot segue como titular na lateral direita, e a dupla de zaga depende de jovens como Leny Yoro (20) e Ayden Heaven (19).
A contratação do goleiro Senne Lammens, 23, em vez do experiente Emiliano Martínez, e a opção por Šeško no lugar de Ollie Watkins expõem a estratégia do CEO Omar Berrada e do diretor de futebol Jason Wilcox: investir em talentos que possam crescer de valor, mesmo que isso custe desempenho imediato.
Sistema carente de peças
O 3-4-3 de Amorim exige laterais de explosão e um meio-campista box-to-box — funções que hoje carecem de especialistas. A diretoria projeta buscar Elliot Anderson, do Nottingham Forest, e outro meio-campista na próxima janela, mas a janela não se antecipa ao calendário: o treinador terá de improvisar até maio.
Vestiário dividido entre paciência e urgência
Dentro do grupo, o discurso é ambíguo. Enquanto Amorim fala abertamente sobre “processo” e “evolução”, veteranos como Diogo Dalot evitam pedir paciência. “Aqui precisamos vencer já, é o que o clube cobra”, afirmou o lateral após o tropeço diante do West Ham.

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Futuro em jogo
Seja qual for o desfecho em Molineux, o Manchester United terá de decidir entre reforçar a convicção no projeto ou ceder à cultura de curto prazo que tomou conta do futebol inglês. Amorim sabe que sua margem de erro diminui a cada rodada — e, paradoxalmente, é justamente tempo o insumo que ele mais precisa.




