Sérgio Conceição, ex-FC Porto, nunca escondeu aquilo que foi como jogador e aquilo que é como treinador. Assim, recentemente aproveitou para contar alguns episódios curiosos da carreira, abordando algumas características da sua personalidade e outros assuntos.
“Não é fácil chegar e ter resultados no imediato”
O antigo treinador do Porto foi o primeiro convidado do podcast Bitaites D’Ouro, moderado pelo humorista Pedro Neves. O treinador português destacou a forma como consegue gerir um balneário, mas ressalvou que não é fácil estar à espera da adaptação de cada jogador, visto que os resultados têm de aparecer.
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“Não é com marés de água doce que se conseguem grandes conquistas, tem de ser na turbulência, naquilo que são essas marés e as vagas de muitos metros para que os marinheiros tenham sucesso. Para que aprendam, no meio dessa dificuldade e dessa exigência diária, a navegar de forma fantástica. Dentro de uma equipa de futebol chega-nos um jogador da América do Sul, que não está habituado a determinada exigência e com um futebol diferente. Não é fácil chegar e ter resultados no imediato. Mas nós temos de os ter, porque as pessoas vivem de resultados”, explicou.
Conceição recordou igualmente o momento em que se apercebeu de que não estava convocado para representar a seleção nacional nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta (EUA). “Eu desde miúdo tive uma grande vontade de ganhar, uma grande vontade de vencer na vida. Estava no Felgueiras, não fui convocado para os Jogos Olímpicos e fiquei dois dias na cama. Não quis ver ninguém, sem comer sem nada. Vivia muito a minha profissão. Tinha muita vontade de conquistar e de honrar o sacrifício da minha família para que jogasse”, admitiu o treinador de 49 anos, que chegará em breve à marca dos 50 anos (na próxima sexta-feira, dia 15 de novembro).
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Sérgio Conceição e uma história com Fernando Santos
A sua competitividade marcou muitos dos episódios mais polémicos que teve, quer enquanto jogador ou quer enquanto treinador. Assim, aproveitou até para contar um episódio que envolve o antigo selecionador nacional, Fernando Santos (atual selecionador do Azerbaijão ).
“O Fernando Santos, ex-selecionador nacional, apanhou-me como jogador em final de carreira e diz que fui – perdoem-me o termo – o jogador mais ranhoso que apanhou. De todos. Eu como treinador não gostava de ter um jogador Sérgio. Gostava de ter algumas das caraterísticas do jogador Sérgio, mas não aquela azia descomunal, ser insuportável quando perdia. Se ficasse no banco era um problema”, contou o ex-dragão.
Por outro lado, na vida pessoal, segundo o próprio, era preciso gerir esse lado menos positivo. Aliás, Sérgio admite que era difícil lidar com as derrotas, revelando a importância da sua esposa nesses momentos.
“Desde miúdo que tenho uma grande vontade de vencer na vida. Contudo, a minha mulher é completamente diferente de mim porque é muito tranquila de caráter. Quando jogava e perdia, dois dias era impossível falar comigo. Fomos [Sérgio e a esposa, Liliana] crescendo com as virtudes e defeitos de cada um. Hoje temos um casamento sólido, mas não foi fácil lidar comigo nesse sentido.”
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“Vai jogar a titular e não vai lixar a cabeça a ninguém”
Em tom nostálgico, o antigo comandante do Porto relembrou ainda o “famoso” hattrick que fez diante da Alemanha no Euro-2000 e que contribuiu decisivamente para a vitória de Portugal por 3-0.
“Nesse jogo com a Alemanha, teve que ver com esse momento. Tinha feito épocas fantásticas e era sempre o 12.º jogador. Os violinos da Seleção, Rui Costa, João Vieira Pinto, mais tarde o Pauleta, o Figo. Enfim, da frente quem saía? Eu não podia com aquilo e não suportava. O Humberto Coelho [selecionador no Euro-2000], com uma Alemanha fortíssima…foi uma oportunidade única”, começou por referir.
“Quando o Humberto deu a equipa eu fui para o quarto e estava com outro jogador e juntaram-se quatro ou cinco. O pessoal a pensar que o Sérgio estava feliz. ‘Vai jogar a titular e não vai lixar a cabeça a ninguém’, disseram. Mas eu estava com uma azia. ‘Este homem quer-nos lixar…como é que é possível mudar a equipa toda? Jogar com três centrais…nunca jogámos assim, quer dar moral aos titulares’. Mas fizemos um jogo maravilhoso. Tínhamos jogadores muito inteligentes a jogar nas melhores da Europa. Eram tempos diferentes. Hoje tudo se prepara”, salientou.
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“Vivo aquilo que é o dia a dia, de uma forma muito intensa”
Sobre o futuro, Sérgio Conceição não adiantou pormenores, mas garantiu que não pensa em terminar a carreira num futuro próximo. Contudo, segundo o próprio, há quatro meses a resposta poderia ter sido outra.
“«Ainda não tracei uma meta, sou assim enquanto treinador e já era assim enquanto jogador. Vivo muito aquilo que é o dia a dia, tudo de uma forma muito intensa. E não penso nisso. Não sei. Isto é uma profissão de um desgaste incrível. Mas não sei. Se me perguntasses isso há quatro meses, ali na fase final da minha 7.ª época no FC Porto, dir-te-ia que brevemente. Estava num momento…agora, depois de dois meses em casa, já não penso e a minha mulher agradece”, referiu o conimbricense.
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Recordamos que Sérgio Conceição está sem clube desde o final da temporada passada, altura em que abandonou o cargo de treinador principal da equipa do FC Porto, em prol de Vítor Bruno e pouco depois da vitória nas eleições presidenciais por parte de André Villas-Boas. Até ao momento, têm sido vários os clubes apontados ao futuro do treinador, mas ainda sem haver uma opção realmente válida para aquilo que provavelmente pretenderá o ex-técnico portista.