Filipe Çelikkaya treinou, por quatro anos, as camadas jovens do Sporting e comentou acerca da formação leonina, nomeadamente sobre a maior “pérola” atual do clube: Geovany Quenda.
“Gostava de aprender, de ouvir (…) e desenvolvia rendimento”
Em entrevista ao jornal A Bola, o português com dupla nacionalidade turca abordou vários temas sobre a vida do Sporting. Dessa forma, não podiam faltar algumas palavras acerca do prodígio leonino.
“Surpreendeu, até porque nós tínhamos muito bem definido aquilo que queríamos para cada um dos jogadores. O Quenda sempre foi um jogador em quem nós tivemos muita cautela na sua exposição. Inicialmente, passa de sub-17 para sub-23, no qual já apresentava rendimento para ser utilizado na equipa B. Mas nós não arriscámos demasiado cedo para não existir esta subida e descida de escalão do jogador. Até para termos cuidado com a sua parte emocional”, explicou o treinador.
Adicionou ainda o seguinte: “Trabalho sobre talento vai dar bom resultado. E ele tinha apresentado, ao longo do tempo, muitas características que nos poderiam descansar sobre o seu futuro. Gostava de aprender, de ouvir, tinha um grande desejo de vitória, sentido coletivo e desenvolvia rendimento. Falamos muitas vezes do potencial desses mesmos jovens jogadores, mas se não apresentarem rendimento não podem ter espaço numa equipa B, ou mesmo numa equipa A“, rematou.
Após isso, segundo explicou, o processo passava para as mãos do técnico da equipa principal. “Depois, naturalmente, o Rúben Amorim, dentro daquilo que é o seu contexto, que é um contexto de rendimento de alto nível, com a sua chamada, ao longo do tempo conseguia avaliar muito bem aquilo que ele valia. Se estava abaixo da média dessa mesma equipa, se estava dentro, se estava acima da média. Portanto, fico muito satisfeito por isso. Não só por ele, mas também pela família dele e também pelo cuidado que nós tivemos no seu crescimento dentro do clube“, terminou por referir acerca do jovem de 17 anos.
“Numa equipa B, todos eles são demasiado brincalhões”
Além dos comentários de Filipe Çelikkaya sobre Geovany Quenda, o técnico de 39 anos também proferiu declarações sobre outros jovens talentos do Sporting, inclusive um que já saiu. Questionado sobre se ficou com pena da saída de Mateus Fernandes (para o Southampton), Filipe respondeu: “Não, acho que com a experiência que tenho e já há muitos anos, não tenho essa pena. Cada jogador tem o seu caminho, tem que procurar a sua felicidade e é uma carreira muito curta.”
Já sobre Eduardo Quaresma, relatou: “Tive muito prazer em treinar o Edu. Identificávamos nele – e ele já tinha jogado pela equipa A – muita qualidade e competência.” É também conhecido que o jogador tem uma personalidade divertida e o treinador respondeu sobre se ele não seria “demasiado brincalhão”, na altura. “Numa equipa B, todos eles são demasiados brincalhões. Ainda não tiveram contacto com a vida real das dificuldades que um clube grande muitas das vezes tem. É como se fosse uma bolha.”
Çelikkaya falou igualmente sobre outro jogador a quem augura “um futuro muito risonho”, mas que ainda não explodiu: “O Afonso Moreira tem muita qualidade. Identificámo-lo nos juvenis e ele salta diretamente para a equipa B e joga a equipa B como júnior do primeiro ano. Também foi uma grande decisão que tivemos. Mas que neste momento tem jogadores também naquela posição na equipa A que não lhe permitem ascender com maior facilidade”.
“Decisões fantásticas no clube”
Também questionado sobre dois jogadores igualmente promissores (João Muniz e Dário Essugo), respondeu: “São jogadores com muito talento. Um está no Rio Ave, o outro no Las Palmas. Chamámos o João Muniz para a equipa B ainda júnior do primeiro ano. Estreámos o Dário Essugo ainda juvenil na equipa B. Portanto, estas decisões, mesmo com as dificuldades que eles encontraram e encontraram muitas, num patamar sénior, vão ter repercussões daqui a dois ou três anos. Se calhar não nos vamos lembrar daquilo que eles fizeram no passado e que influenciaram positivamente o seu desenvolvimento“, referiu, antes de destacar mais “detalhes” importantes.
“É importante não esquecer. Colocar em campeonatos competitivos jovens jogadores que ainda não dominam várias coisas, que o seu corpo está em desenvolvimento, o seu sistema nervoso central ainda tem muito para evoluir em relação à sua tomada de decisão, é importante. Penso que são decisões fantásticas no clube, numa equipa B. Decisões que permitiram que estes jovens jogadores se expusessem não só na equipa B mas também na Youth League, à qual eu também era treinador, em termos europeus e mundiais”, concluiu.
“Quero que tu faças duas posições: 6 e defesa-central à esquerda”
Por fim, Renato Veiga foi um tema que não poderia “escapar”. Uma das perguntas principais foi sobre o facto de nunca ter sido uma aposta na equipa principal do Sporting, mas também foi questionado acerca do facto de ser uma pessoa bem formada e, também, os passos dados no clube, desde júnior. “Identificámo-lo muito cedo, em júnior, e entendemos que poderia ter características muito importantes. E a primeira coisa que eu fiz foi que ele jogasse em várias posições comigo“, começou por dizer.
“Não o conhecia tão bem e depois de treiná-lo, de vê-lo em competição, de utilizá-lo em várias posições, tive o cuidado de falar com ele. Até porque ele também fez Youth League e nesse ano fiquei sem vários jogadores porque foram todos projetados para o patamar acima. Depois expliquei-lhe: ‘Renato, quero que tu faças duas posições que penso que vão ser as tuas no futuro – posição 6 e defesa central à esquerda’. Perguntei se ele se sentia confortável com isso e expliquei-lhe porquê. Queria partilhar esta decisão com ele, porque no fundo estou a falar com um ser humano e como estava a projetá-lo para o futuro”, sublinhou o ex-treinador leonino.
Renato Veiga: “O mais importante para mim é continuar a jogar”
Sobre a boa formação pessoal do internacional português, refere: “É proveniente das experiências que teve no acompanhamento do pai e na educação que teve e em vários países. Ou seja, é um jogador que chega ao Sporting já com algum mundo, porque teve que lidar num país árabe e noutros. Mas o jogo está em constante evolução. O jogo de há seis anos não é igual ao que é hoje. Estes jogadores que têm capacidade de desempenhar várias funções são muito valorizados pelos treinadores, pelas próprias equipas, pelas administrações. Eu vi nele capacidade para desenvolver aquelas duas, e fui-lhe comunicar, e a primeira coisa que ele me disse foi: ‘Vamos em frente, vamos trabalhar isso, e o mais importante para mim é continuar a jogar, mas é importante eu ter esse conhecimento’.
Sendo assim, a pergunta que o jornal colocou, de seguida, foi sobre o porquê de Renato Veiga nem ter entrado na equipa principal. “Fomos caminhando juntos até que o Augsburgo, da Bundesliga, foi bater à porta para o levar em janeiro. Fiquei muito triste. Mas nem eu nem o Viana poderíamos dizer que não a uma oportunidade destas para ele continuar a desenvolver-se, até porque era empréstimo para a Bundesliga. Ele salta diretamente da Liga 3 para a Bundesliga. Passa diretamente para uma liga que está superior à liga portuguesa do ponto de vista financeiro, de intensidade organizacional, etc…e para uma equipa que está a lutar para se manter”, continua, antes de referir o passo definitivo, após esse momento.
“Ele vai para lá, joga, cresce, desenvolve-se, e depois é transferido para o Basileia e dá um valor considerável ao Sporting. Foram cerca de 5 milhões de euros. Foi a maior transferência de sempre de um jogador que nunca tinha jogado na primeira equipa do Sporting.”