Jorge Costa foi um jogador lendário no FC Porto

Jorge Costa, que exercia, desde a época passada, a função de diretor de futebol do FC Porto, sentiu-se mal, esta terça-feira, no Centro de Estágios de Vila Nova de Gaia (Olival), foi assistido, de imediato, no local, pelo corpo clínico portista, incluindo o médico Nélson Puga, com recurso a desfibrilhador, tendo depois chegado os bombeiros e o INEM. Foi então transportado, de urgência, para o Hospital de São João, em Paranhos, no Porto, onde viria a falecer já ao início da tarde (óbito dado às 14.17 horas).

O malogrado episódio ocorreu no dia em que o plantel dos dragões voltou ao trabalho, após ter gozado dois dias de folga, na sequência do triunfo sobre o Atlético Madrid, na apresentação aos sócios, no sábado passado, iniciando a preparação do jogo inaugural da Liga Portuguesa, com o Vitória de Guimarães.

O dirigente portista sentiu-se mal quando falava aos microfones da Sport TV, por volta das 12.30 horas, tendo pedido para que a reportagem continuasse dentro das instalações, evitando o impacto da elevada temperatura, onde, no entanto, acabaria por perder a consciência.

Jorge Costa tinha sofrido
um enfarte há três anos

Em 2022, Jorge Costa, então treinador, tinha sofrido um enfarte, pouco tempo após ter abandonado o comando técnico dos tunisinos do CS Sfaxien. Na altura, foi levado para o Hospital de Cascais, e, posteriormente, internado no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, conseguindo recuperar depois de submetido a um cateterismo.

Recorde-se que o antigo capitão do FC Porto teve uma carreira longa a treinador (18 anos), antes de ter sido convidado por André Villas-Boas para fazer parte da estrutura diretiva dos dragões. O último feito de Jorge Costa como treinador foi a subida do AVS (antigo Aves), em 2023/24, após ter vencido o Portimonense no play-off. A equipa de Vila das Aves garantiu a subida após duas vitórias por 2-1.

O verdadeiro ‘bicho’, líder
do FC Porto e da Seleção

Jorge Costa era mais do que um capitão, tanto no FC Porto, onde era idolatrado e amado pelos adeptos e azuis e brancos, como ao serviço da Seleção, onde fez dois golos em 50 internacionalizações. Jorge Costa foi batizado de Bicho pelo antigo parceiro da defesa, Fernando Couto, pela sua dedicação, profissionalismo, entrega e resiliência, fazendo dele um verdadeiro líder, capaz de inspirar toda a equipa mesmo nos momentos mais adversos.

O museu pessoal de Jorge Costa fala por si em termos do sucesso alcançado ao serviço do FC Porto e que pretendia, com toda a sua experiência, conhecimento e carisma, trazer de volta aos dragões. Ao todo, o Bicho – era bem conhecido por esta alcunha antes de também ter sido atribuída a Cristiano Ronaldo -, somou o impressionante total de 23 títulos.

A nível internacional, Jorge Costa conquistou uma Champions League – ainda a única conquistada por um clube que não das big 5 -, uma Liga Europa e também uma Taça Intercontinental, títulos aos quais somou 18 a nível nacional: 8 vezes campeão de Portugal, 5 Taças de Portugal e 5 Supertaças Cândido de Oliveira.

Episódio especial contado por
José Mourinho é ilustrativo

Numa entrevista em 2019, José Mourinho contou um episódio no Estádio do Restelo, durante o intervalo de um jogo com o Belenenses, para destacar a capacidade de liderança de Jorge Costa. Começou por recordar o histórico treinador português: “Tive capitães que não eram líderes e tive um no FC Porto, o Jorge Costa, que, num jogo com o Belenenses, a perder por 2-0 ao intervalo, apenas me disse ‘espera dois minutos fora do balneário, por favor’.”

A capacidade de liderança de Jorge Costa, ‘O Bicho’, ajudou, e muito, ao FC Porto atingir um grau de sucesso incomparável em Portugal a nível internacional. Foto: FC Porto

José Mourinho prossegue: “Eu estava furioso e os jogadores podiam ver-me a fumegar. O Jorge Costa entrou no balneário, fechou a porta e fez o trabalho sujo por mim. Depois, abriu a porta e disse ‘dê-nos instruções’.”

O Special One deixa, num episódio, tudo o que Jorge Costa significava para o FC Porto: “Ele fez tudo o que eu faria. Ganhámos 3-2. Era central, nunca marcava golos e bisou. Há os capitães e há os líderes e os líderes não se compram nem se formam. Quando os tens, a tua equipa está um passo à frente.”

Jorge Costa e Diogo Jota,
a humildade dos gigantes

Por último, uma ressalva: no mesmo ano, 2025, em que Portugal se despediu de Diogo Jota, nortenho de gema como Jorge Costa, e que também representou o FC Porto, existem algumas semelhanças entre ambos. Diogo Jota possuía, sem dúvida, um talento incrível, mas apurou-o com grande humildade e dedicação e só assim chegou ao topo do Mundo, ao grande Liverpool e impôs-se, deixou a sua marca, não apenas passou por Anfield.

Jorge Costa não era o central mais dotado tecnicamente, não era propriamente um sobredotado – um Beckenbauer ou um Baresi – mas compensava na entrega e dedicação o que lhe faltava em certos aspetos técnicos e isso só se consegue com a humildade dos realmente grandes, não dos que se põem em bicos de pés logo ao primeiro vislumbre de sucesso.

O FC Porto sagrou-se, depois de 1987, novamente Campeão do Mundo (o único clube português), com Jorge Costa, ao vencer os colombianos do Once Caldas na final. Foto: FC Porto

Jorge Costa nunca dava um lance por perdido, até ao apito final, e a sua atitude em campo incorporava a mística, a identidade, a essência única que distingue o FC Porto, que é como quem diz ‘podemos não ser os mais ricos, ter os jogadores mais famosos, mas quando sobra na qualidade, compensamos na raça, não é por isso que nos vergaremos, nunca nos renderemos‘.