O que terá sido dito sobre a festa de Lamine Yamal?
Após a polémica gerada pela festa de aniversário de Lamine Yamal, extremo do Barcelona, onde participaram pessoas com nanismo como parte da animação, um dos profissionais envolvidos veio a público defender o seu trabalho. “Deixem-nos trabalhar em paz. Somos pessoas normais que fazem o que querem fazer de uma forma absolutamente legal“, começou assim por referir, em declarações à radio catalã RAC1.
A pessoa visada reforça que não houve qualquer tipo de humilhação: “Em nenhum momento humilharam as pessoas com nanismo. Não percebo por que é que há tanto alarido por causa disto”, disse. Segundo ele, tratou-se apenas de um evento festivo, como tantos outros: “Estávamos na festa para distribuir bebidas, dançar, fazer magia e interagir com os convidados. Toda a gente se divertiu muito. Portanto, não fomos humilhados, foi trabalho digno”, afirmou.
Mais do que um apelo à compreensão, estas declarações são um grito de autonomia: “Já chega. Há alguns anos que estas pessoas nos prejudicam. Querem proibir um trabalho de que gostamos e, em nenhum caso, ofereceram trabalho ou cursos“, revelou. A crítica é direcionada à própria associação que, segundo o profissional, não representa os interesses reais de quem trabalha nesse meio.
Entre a proteção e o controlo: a intervenção da ADEE
A intervenção surge depois da ADEE (Associação de Pessoas com Acondroplasia e Outras Displasias Esqueléticas com Nanismo) criticar as contratações. Ademais, a associação anunciou que apresentará queixa junto do Ministério Público espanhol, alegando que a presença destas pessoas no evento viola a dignidade das pessoas com deficiência. Também pediram a intervenção do Provedor de Justiça, do Ministério dos Direitos Sociais e do Gabinete de Crimes de Ódio.
No entanto, para os profissionais diretamente envolvidos, a associação está a agir contra a vontade de quem alega defender. “Eles não perguntam o que queremos, apenas falam em nosso nome“, sublinhou um dos animadores contratados. A sua mensagem é clara: “Quero continuar a fazer este trabalho, porque gosto e é digno. Ninguém é obrigado a nada. Isto é escolha“, rematou.

Yamal em ação com a seleção de Espanha. Foto: Alex Grimm/Getty Images.
Quando o debate é mais sobre a liberdade e o dar voz
Esta polémica abre, inclusive, um debate mais profundo sobre representação, liberdade de escolha e inclusão. Para os animadores envolvidos, ser contratado para este tipo de eventos não é um ato de exploração, mas sim uma forma legítima de ganhar a vida. “Se fosse o aniversário de uma pessoa qualquer, ninguém diria nada. Mas como é o Yamal, toda a gente comenta“, mencionou.

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A linha entre proteger e limitar torna-se, aqui, muito ténue. O verdadeiro desafio está em ouvir as vozes das próprias pessoas envolvidas e não apenas falar por elas. “A inclusão não pode ser feita à custa da nossa liberdade“, concluiu, portanto, o profissional. A discussão e o debate estará longe de terminar, mas o essencial é garantir que aqueles de quem se fala possam igualmente falar.