Toni Kroos, que abandonou o futebol há três meses, deu uma longa entrevista ao jornal espanhol Marca, onde revela a sua nova vida e faz uma retrospectiva da carreira – para muitos, terminada de forma precoce.
Mais trabalho do que antes
O alemão falou pela primeira vez aos meios de comunicação desde o fim da carreira.
Uma despedida em grande, entre a final da Champions League onde o Real Madrid conquistou pela 15ª vez a competição, e a montra do Euro’2024, onde a sua seleção foi eliminada precisamente pela Espanha.
Cenário de perfeito adeus para um jogador de eleição que, depois de dez anos ao serviço da equipa merengue, se mostra muito satisfeito com a sua vida pós-futebol.
“Estou muito bem, sinceramente, feliz, embora a vida seja diferente. Tenho projetos interessantes e uma vida muito boa“. Entre esses projetos encontram-se uma nova e surpreendente carreira enquanto modelo, mas também uma escola de futebol.
“Acho que trabalho mais do que antes [risos]. É um trabalho diferente: mais de pensar, idealizar projetos e cuidar deles. Na escola de futebol, por exemplo, tenho muitos meninos aos quais quero ajudar e para isso tenho de desenvolver vários planos de treino. Nisso, a minha vida mudou. Antes, treinava, jogava e pronto”.
Kroos destaca ainda o trabalho na Fundação com o seu nome. “Já tem dez anos e com ela tentamos ajudar crianças doentes. Toda a minha família está envolvida neste projeto. Sou abençoado, os meus filhos são saudáveis. A verdade é que a minha vida é irreal, e, por isso, tento ajudar o mais que posso”.
O respeito de Ancelotti e colegas
A decisão de terminar a carreira foi ponderada, tardou vários meses e, quando assumida, definitiva. “Foi uma decisão tomada em conjunto com a minha mulher. Foi difícil contar ao meu filho mais velho, porque sei que adorava ver-me jogar. Viveu muitas coisas, esteve em quatro finais da Champions e jamais o vai esquecer”.
Kroos também sentiu muitas dificuldades em comunicar a Carlo Ancelotti a sua decisão. “Custou-me muito dizer ao Carlo, sei que ele esperava que eu continuasse. Tínhamos, e temos, uma muito boa relação. Foi o meu primeiro treinador no Real, mas tudo na vida chega ao fim”.
O alemão aproveitou a conquista da La Liga para dar ao técnico a novidade. “Sabia que não se ia chatear, mas que ficaria triste. Também não foi um momento fácil para mim, supunha o fim de algo muito especial. Por isso, tentei escolher um momento apropriado, e tive a sorte de vencermos o campeonato com margem. Por isso, pensei: ‘É agora’. Era o timing perfeito, dali até à final da Champions“.
Aos colegas, comunicou um por um a sua despedida, revelando-se muito grato por todos, sem excepção, terem respeitado não apenas o momento de a notícia se fazer pública, mas também a decisão em si.
“Depois de dez anos, já todos me conhecem bem. E sabem que se tomo uma decisão ponderada, não há volta atrás. O mister disse-me: ‘És alemão, não há nada que possa fazer para te convencer a ficar, não é?’. Tentaram, mas sabiam que eu não ia ceder. Expliquei-lhes que estava há meses a pensar no assunto e que a minha decisão era definitiva”.
A despedida
Questionado sobre se este final de carreira aos 34 anos, ainda no auge das suas capacidades, o deixa marcado como mito na história do clube e do futebol, o alemão é contundente.
“Não sei – não devo eu respondê-lo. Vejo as imagens da minha despedida, todo o carinho que recebi, e dá-me sim essa sensação. Acho que os adeptos perceberam que a palavra tem valor. Eu disse há seis anos que me ia retirar no Real Madrid e cumpri . Os adeptos perceberam que amo verdadeiramente o clube e valorizam isso”.
Kroos garante que nunca pensou abandonar Madrid. “Não houve, em dez anos, um único momento em que pensei sair. Não o podes planear, claro, podes querer ficar aqui o resto da vida e de repente do outro lado não te quererem renovar contrato, mas isso também não aconteceu. Nem nos momentos maus o clube duvidou de mim“.
Instado a escolher o melhor momento da carreira, o ex-jogador escolhe… um dos últimos.
“O dia do jogo com o Bétis , já com a liga conquistada, foi muito especial. Nesse dia, senti que 85 mil pessoas foram ao Bernabéu para me ver, para se despedirem. Foi muito bonito. Não voltei a ver o momento, apenas algumas imagens soltas, e foi impressionante. Venci tudo, mas esse momento ficará sempre no meu coração “.