Jogos opostos
As exibições de Portugal frente a Polónia e Escócia lembraram-me aquela clássica expressão que todos trazemos, desde pequenos, instalada na ponta da língua. Foram mesmo jogos do 8 ao 80, opostos, de extremos, esperança de tudo ou desânimo de quase nada.
É verdade que tem sido difícil para Roberto Martínez encontrar consistência. No cargo desde janeiro de 2023, o espanhol não parece ter definido ainda um 11 tipo, tampouco uma estratégia coerente de jogo. Flutua, de convocatória para convocatória, e a cada desafio, pelo que a sorte e o momento individual de cada jogador lhe oferece.
Balança descalibrada
A capacidade de adaptação ao incontrolável é fundamental, já se sabe – mas espera-se, ainda assim, muito mais de um timoneiro que, entre mãos, abarca como poucos um leque invejável de talento. Espera-se inteligência na sua gestão. Espera-se coerência. Espera-se, sobretudo, equilíbrio. E no entanto, no espaço de 3 dias, a balança nacional foi descalibrada de forma inexplicável.
Pedro Neto, por exemplo, saltou da titularidade quase inquestionável para o assombro da bancada no espaço de 90 minutos. João Palhinha, inesperadamente excluído no primeiro encontro, fez o caminho inverso. Cada jogo exige diferentes abordagens, claro. Nos livros, uma equipa competente será capaz de, com diferentes peças, “dançar a mesma música”. E existe ainda o controlo necessário de esforço. Mas não serão seis alterações demais?
Roberto Martínez é o nome ideal para a Seleção de Portugal?
Roberto Martínez é o nome ideal para a Seleção de Portugal?
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Encanto e desânimo
Varsóvia fez de si palco para a melhor contenda da seleção de Martínez. Frente a uma Polónia de carácter e com quem era mais expectável sofrer-se, vimos uma equipa coesa, de força e arte na mesma medida, que pecou apenas por permitir o golo adversário numa fase do jogo onde o engenho da gestão prevaleceu sob o encanto de querer mais.
Já em Glasgow, em contraponto, brindou-nos apenas o desânimo, a incapacidade, memória recente de tempos onde com tanto se fazia tão pouco. A bola esbarrou sempre em alguém mais alto, mais forte ou com mais vontade. A circulação, lenta e previsível, foi quebrada infinitas vezes.
A mudança, essa, tamanha no arranque do jogo, tardou demasiado a ser desde o banco decidida quando a necessidade a exigia. E o empate de Portugal frente a uma cinza Escócia de tão poucos argumentos foi o resultado óbvio para quem também pouco levou a discussão.
Com a qualificação para os quartos-de-final da UEFA Nations League à espreita – e esperar ou exigir menos já não nos cabe – torna-se difícil antecipar cenários vitoriosos. Esta Seleção é, e ocasionalmente demonstrou-o, capaz do melhor; mas também se revela, tantas vezes, adepta do pior. Qual prevalecerá nos relvados desta Europa depende, mais do que nunca, da estabilidade que o técnico nacional consiga transmitir.