Diogo Jota contra (quase) todas as expetativas
O mundo do futebol está em choque com a morte de Diogo Jota e de André Silva, o irmão do internacional português. A nós, jornalistas, cabe a tarefa de noticiar o que tem de ser noticiado, e nem sempre, ou quase nunca, se percebe que deste lado, quem escreve, a consternação também nos afeta.
O desaparecimento destes dois jovens, que o eram, acima de tudo, bem antes de serem futebolistas, deixou toda a equipa Somos Fanáticos incrédula. Quem escreve estas linhas não fugiu à regra e lembrou-se que Diogo Jota o fez enganar-se e muito num vaticínio há alguns anos.

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Na altura trabalhava para o site da UEFA e estava destacado em Paris, para cobrir o saudoso Euro 2016 que Portugal conquistou. Num dia normal, das cinco semanas que lá estive estacionado, um jornalista inglês questionou-me sobre o que achava deste jogador jovem, que acabara de ser contratado pelo Atlético de Madrid ao Paços de Ferreira, antes de ser emprestado ao FC Porto.
Um engano em toda a linha
Na altura reconheci o valor de Diogo, mas quando questionado se o considerava bom o suficiente para ser um jogador de topo, respondi que não. Que seria um bom nome no futebol europeu, mas não acreditava que chegasse onde chegou. Grande engano.
Esta quinta-feira, ao escutar na TSF várias reações ao trágico acidente, ouvi a entrevista ao olheiro do Paços de Ferreira que o descobriu em Gondomar e o levou para a Capital do Móvel. Ivo Rodrigues, de seu nome, disse, mais coisa, menos coisa:
“Sempre acreditei no seu valor, mas não que chegasse tão longe. Só que ele era assim. Quando foi para o Liverpool avisei-o que iria ter de concorrer com Salah e companhia. Ele respondeu: ‘Eles que se preocupem comigo, porque eu vou para jogar“. Sorri com a história e fiquei mais descansado. Não fui o único a duvidar e a enganar-me.

Diogo Jota, uma grande figura da seleção de Portugal: Foto: Thomas Eisenhuth/Getty Images
Subida a pulso
Diogo Jota era assim. Além da qualidade como futebolista, era imune à pressão e não tinha medo. Trabalhava, com um sorriso, dedicava-se e o Atlético de Madrid foi o único clube onde não vingou. Esteve bem na época no FC Porto, foi ídolo no Wolverhampton e Jurgen Klopp levou-o para o Liverpool, onde o adaptou a uma espécie de “falso 9” que marcava que se fartava.
Não fossem as muitas lesões e Diogo Jota teria ido ainda mais longe, não só em Anfield, como na seleção de Portugal. Disciplinado, muito inteligente taticamente e nas movimentações em campo, excelente sentido de posicionamento e de oportunidade e uma capacidade inata para o jogo aéreo, apesar da sua estatura média.

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No Liverpool foi também ídolo, com golos e golos. Na seleção de Portugal fez 14 golos em 49 internacionalizações e foi fundamental em diversos momentos, tendo ajudado a conquistar duas Nations League. Agora fica o vazio. Não tanto do futebolista (também), mas do homem, jovem de 28 anos. Como disseram Cristiano Ronaldo e Rúben Dias….não faz sentido.